sexta-feira, 18 de julho de 2014

Por que eu vou parir em casa

Quem convive comigo sabe minha opinião sobre o nascimento das crianças: o mais natural e respeitoso possível.
O parto da Aurora, apesar de eu ter desejado MUITO que fosse absolutamente natural, acabou sendo um parto induzido. Parto induzido é quando a gente recebe ocitocina na veia, um hormônio sintético que imita o natural produzido pelo corpo para estimular as contrações uterinas. Eu estava com 40 semanas e a médica que me acompanhava até então começou a me aterrorizar dizendo que havia pouco líquido, placenta envelhecida e blá blá blá. Se eu fosse outra mulher, que não tivesse buscado informação e não tivesse feito de um grupo porreta de informação sobre o parto (o Ishtar), eu teria ido parar numa cesariana dia 20 de setembro ao meio-dia - a dotôra já tinha agendado tudo, só faltava eu confirmar. Pois bem, eu neguei e perguntei se não poderíamos tentar uma indução. Ela disse que não, que a Aurora não iria aguentar uma indução. (Essa médica tinha bola de cristal? Porque essas coisas não são assim, devem ser monitoradas e caso realmente o bebê não aguentasse, passaríamos para a cirurgia. Bem, se ela tinha bola de cristal, sinto dizer, mas estava pifada). E aí ela gritou pra mim no telefone: "Se você não for, pode eshquecer que eu exishto! Eu não vou fazer parte do assassinato que você eshta preshtes a cometer!"
Olha, querida, sinto te desapontar, mas nossa indução foi super bem-sucedida, sem nenhum sofrimento fetal, eu não tomei anestesia e nem fui submetida à mutiladora episiotomia. Muda de profissão ou então vai estudar. Vaca. (É, eu ainda tenho raiva dela.)
O nascimento da Aurora foi num hospital bambambam do Rio de Janeiro, tipo hotel 5 estrelas. Mas o parto em si só foi bacana porque contei com uma médica que respeita a escolha da mulher e o tempo do bebê. Eu a conheci no mesmo dia que a doutora louca gritou comigo, por indicação de uma doula do grupo de gestantes. E como eu já estava abalada demais pra ficar esperando, sem saber se Aurora corria ou não algum risco, já cheguei no consultório pedindo uma indução. Ela viu que tinha condições favoráveis do colo (porque ele não pode estar tão grosso, senão a indução não "pega") e marcamos pro dia seguinte. Ou seja, fui pro hospital sem ter entrado em trabalho de parto de verdade. Meu corpo não começou o processo, quem desencadeou tudo foi o ocitocina sintética. Talvez Aurora fosse querer nascer só dali a uma ou duas semanas... Nunca saberei.
Aurora nasceu bem, ficou alguns minutos no meu colo, toda melequentinha e de olhos vivos e curiosos. A coisa mais feinha, mas que eu mais amava no mundo. Nem toda mãe acha o filho bonito assim que nasce. Verdade. Depois do banho, sem nariz amassado, eu achei uma boneca, mas assim que saiu era meio ratinha. E aí, toda saudável, ela foi levada pro berçário do hospital, onde ficou por TRÊS HORAS. As três primeiras horas da vida da minha filha foram passadas longe de mim, num berçário cheio de sons e pessoas e cheiros e tudo desconhecidos! Chorando, sendo mexida, até que, sem ter o que fazer, dormiu. O Arthur ficou na janela, vendo tudo, porque eu pedi, com medo de que ela fosse sequestrada. Sei lá, de vez em quando rolam essas coisas, né? Ou você não assistiu "Senhora do Destino"?
E eu? Fiquei telefonando que nem uma lôca, lá do meu quarto de hotel, onde estava, SOZINHA, pra saber da minha filha. E as enfermeiras respondiam "Daqui a pouco ela vai praí, mãezinha." Ê, gente, que raiva! E a fome que eu estava? E a vontade de fazer xixi, mas eu não conseguia descer daquela maca porque minhas costas doíam com o esforço do parto. Quando finalmente me trouxeram a comida, era uma CANJA DE GALINHA. E EU SOU VEGETARIANA!!! (Bem, agora eu como peixe, mas na época, nem isso!) E eu avisei logo que fiz a admissão no hospital que queria refeição vegetariana!!! Eu estava numa fome tão imensa que comi tudinho, só deixei as pelotas de frango mesmo. E depois Arthur pediu pizza. Aí sim!
Depois que Aurora finalmente foi pro quarto, ela dormia demais. Não acordava nem pra mamar. E as malas das enfermeiras ficavam entrando de 2 em 2 horas pra saber se ela tinha mamado. Por fim eu já estava mentindo, pra elas pararem de amolar. Detalhe: entravam sem bater na porta.

Enfim. Por esses tantos motivos eu fiquei com muita raiva de hospital e não irei parir este bebê em hospital nenhum. Meu filho ou filha vai nascer em casa.
Sim. Em casa. O lugar onde EU sou a autoridade máxima. Onde EU me sinto à vontade. Onde ninguém vai me separar do meu bebê. Onde eu vou comer o que eu quiser.
Em Campo Belo não existe equipe de parto domiciliar, então irei parir em BH.
E antes que você pense que parto em casa é algo arriscado, saiba que para uma gestação de baixo risco, o parto hospitalar e o parto domiciliar apresentam os mesmos níveis de desfechos trágicos (sí, la muerte - que é o que todos temem de cara ao pensar em parir em casa, né?). Níveis baixos, mais baixos do que os níveis de mortalidade materna e neonatal nos casos de cesarianas. Ó! Não sabia? Pois é. A cesariana coloca a mulher e o bebê em mais risco. Além de não darem nem uma gota da delícia que é parir um filho. Inclusive, nos países desenvolvidos da Europa, mulher de baixo risco não vai mais pro hospital. A recomendação é que tenham seus bebês em casa ou nas casas de parto. E ainda tem gente que acha que parto normal é coisa de índia e de pobre. Poupe-me de comentários ignorantes.
"Mas e as parteiras? São vovozinhas com panos e água quente?" Se eu fosse parir no interior do Pará, talvez. Mas as parteiras urbanas são enfermeiras obstetras, totalmente capazes de atender a um parto no hospital ou em casa, e com uma parafernalha de coisas e conhecimentos para dar conta de eventos como sutura, pequenas hemorragias, reanimação do bebê, manobras para ajudar a encaixar, etc. O obstetra é um sujeito bacana, estudado, mas que, sinceramente, tem uma atuação muito específica. Ele deveria aparecer apenas quando dá merda. Partos de mulheres de baixo risco podem ser atendidos por enfermeiras obstetras e quem diz isso não sou só eu, é a OMS (Organização Mundial de Saúde)*. E isso porque um parto acontece sozinho. Se ninguém atrapalhar, a maioria dos bebês irá nascer naturalmente. Não vivem nascendo crianças em taxis e banheiros? Pois é. Bebês nascem.
*São profissionais considerados aptos para prestar assistência no parto: ginecologista obstetra, médico geral, enfermeira obstetra, obstetriz e parteiras treinadas.
Fonte: Assistência ao Parto Normal: um guia prático. OMS.

E aí eu entrei em contato com a equipe da maternidade Sofia Feldman, em BH. Uma maternidade PÚBLICA, cujas enfermeiras agora atendem não apenas na Casa de Parto, mas também a partos domiciliares. Escuta só: vão acompanhar o parto DUAS enfermeiras, que levam até a banheira inflável pra gestante relaxar ou parir na água, se assim quiser, e fica de sobreaviso um motorista de ambulância, para o caso de precisar de uma transferência para hospítal (se der merda, lembra do que eu falei?) e o parto pode terminar naturalmente lá, com alguma intervenção, ou pode acabar tendo que ser uma cesariana. Viu? É tudo muito planejado. É seguro! E, no caso do Sofia Feldman, é de graça! haha
Como eu não moro em BH, iria precisar de uma casa pra me abrir por cerca de um mês (das 38 às 42 semanas). Nem pensei duas vezes antes de pedir pra minha tia, com quem já morei e que eu sabia que não iria jamais se opor. Ela, inclusive, está super feliz que sua casa irá se encher de uma energia nova com o nascimento de um bebê lá. Beijo, Jojô!
Se por algum motivo o parto não puder ser em casa, se a gestante tiver, por exemplo, pressão alta, aí é necessário que ela vá pra Casa de Parto, onde será possível monitorá-la melhor e intervir, caso seja preciso. Ao lado da maternidade tem um hospital, pra onde as gestantes também podem ser transferidas.
Então a Casa de Parto é meu Plano B. Os vários relatos de parto que já li de lá são super bacanas, porque eles têm toda estrutura pra acolher bem as parturientes, em quartos individuais com camas DE CASAL (e não macas!!), banheiro e até banheira em uma das 5 suítes disponíveis. No Sofia há doulas voluntárias que tornam o trabalho de parto mais suportável, e também podem entrar os acompanhantes que a mulher escolher: marido, mãe, filho mais velho... Acho um bom Plano B.

Na primeira gestação eu tive dúvidas sobre o parto em casa. Não me senti segura o suficiente, e nem tinha a grana pra que fosse possível (no Rio ainda não existem equipes do SUS). Já nessa, em momento algum eu pensei que pudesse ser de outra forma. O parto em casa é a única coisa que parece natural para mim.
Agora só me resta esperar e colaborar para que seja uma gestação tranquila e de baixo risco, para que nada me impeça de finalmente entrar em trabalho de parto, sentir minha bolsa estourar, pegar meu bebê no colo e ficar com ele agarradinha, sem berçário, até que ele vá pra faculdade. =)

Um comentário:

  1. Muito fofa, flor! Você é uma mamãe muito consciente, o que me alegra demais! Te amo :)

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